Se soubesses…

Post publicado originalmente em 08.11.2016 por DJ Mandacaru

O leitorado ativo e participante do HZ não faz idéia do grau de alienação deste nosocômio. Só para vocês avaliarem, a última instrução que recebi do editor-em-chefe foi para avaliar as gravações disponíveis de Dindi, o clássico de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, e definir o cânone. Isso na semana em que estavam votando PEC, presidente do Senado trocando sopapos com juizecos, Paulo Preto deixando roxo o alto comando do PSDB, o Italiano consolando o Coisa Ruim nos corredores dos presídios de Curitiba. Mas manda quem pode, obedece quem tem juízo. Dei uma geral rápida nos escaninhos do Drobo e separei algumas coisinhas.

Os arquivos estão separados em três blocos para facilitar o tráfego da muamba – Cantores brasileiros, Cantores de fora, Instrumentais. Para começar, a preferida do chefe – Sylvinha Telles, a primeira a gravar a música em 1959. Sylvinha voltaria à canção mais duas vezes, antes de se estabacar na estrada para Maricá, em 1966. De gravações contemporâneas, temos as de Maysa, Agostinho dos Santos, Alaíde Costa, Lúcio Alves e Elza Soares. Tem outras mais recentes, com Rosa Passos (minha preferida em qualquer lista de qualquer tipo de música), Leila Pinheiro e Zizi Possi. Pra satisfazer a porção nordestina da redação, tem até uma com o Fagner, mas não recomendo para quem nasceu da Bahia pra baixo.

Dos canários de fora, o escrete é imbatível. Devo prevenir que deixei de fora gringas cantando em português. Invariavelmente, a coisa começa assim: “Cêu, tão grande é o cêu”, o que se presta a comentários os mais sórdidos. Vão vendo aí: Billy Eckstine, Blossom Dearie, Carmen McRae, Sarah Vaughn, Frank Sinatra, Shirley Horn (em duas versões diferentes, se ela tivesse gravado três vezes, a terceira também estaria aqui) e mais uma porção de gente mais ou menos desconhecida.

E pra finalizar, as versões instrumentais. Tem desde Joe Pass com Chet Baker (mas pode chamar de Ray Conniff Bonsai), Wayne Shorter, que começa com o Airto Moreira tocando berimbau, enquanto o festejado saxofonista leva quatro minutos emulando um jumento sexualmente excitado, até uma versão matadora do Harry Allen, filho espiritual de Ben Webster, um sax quente e relaxado, daquelas que você ouve e começa a pensar besteira. Para alargar os horizontes espirituais dos leitores, botei duas versões marciais: uma com a Banda de Fuzileiros Navais, outra com The Falconaires, a banda da USAF, a força aérea norte-americana. Só para vocês entenderem por que eu rezo todo dia pro Brasil não declarar guerra aos EUA. Muito bem, diria o leitor mais atento, e qual é a melhor? Sei lá. Ouçam aí e digam.

<b>Marni Nixon – Sings Gershwin (1985)</b> Lincoln Mayorga, piano

1 Let’s Call The Whole Thing Off

2 I’ve Got A Crush On You

3 But Not For Me

4 The Real American Folk Song

5 Blah, Blah, Blah

6 Blue, Blue, Blue

7 The Babbit And The Bromide

8 Nice Work If You Can Get It

9 Someone To Watch Over Me

10 Summertime

11 By Strauss

12 Embraceable You

13 I Got Rhythm

14 Soon/Maybe/Looking For A Boy

15 Of Thee I Sing 16 The Man I Love