Milcho na noite de Sampa

Eu bem que avisei aos redatores dessa bagaça: estava para começar um curso imperdível no SESC SP. “A história do sucesso mundial dos músicos brasileiros”, seria dado em quatro aulas por um dos caras que mais entende do assunto – o Arnaldo DeSouteiro, brasileiro, músico, produtor de mais de 1.000 discos, entre originais, relançamentos, compilações, no Brasil, EUA e Japão. Passaram pelas suas mãos Luiz Bonfá, João Gilberto, Tom Jobim, Airto e Flora Purim, João Donato, Claudio Roditi, Carlos Barbosa-Lima, Ron Carter, Hermeto Pascoal, Steve Swallow, Herbie Hancock, Eumir Deodato, John McLaughlin, Claus Ogerman, Raul de Souza, Gonzalo Rubalcaba – caras, vai ficar chato se eu colocar todo mundo com quem ele trabalhou.

Voltando ao curso: foram 9 horas de uma carga absurda de informações, a maior parte delas não publicadas, que me ajudaram a rever ou resolver diversas questões que estavam em aberto para mim. Na minha opinião, o Arnaldo lascou-se: juntou-se uma turma lá, que está pressionando o cabra e a editora do SESC a publicar um livro com o material dele. Gente chata que nem eu, que não vai desistir fácil.

Pois bem, a uma certa altura da penúltima aula, minhas células ciliadas começaram a tremer dentro do vestido quando uma menção, em volume baixíssimo, ao Milcho Leviev atravessou o tímpano e chegou ao ouvido interno. Oras, eu achei que, no Brasil, só eu conhecia o cabra. Pianista búlgaro, tocou um tempo com o Art Pepper, eu havia descoberto há um certo tempo uma coleção de bootlegs oficiais, liberado pela Laurie, viúva do Art, seis discos e, num deles, a melhor gravação de Patricia, quase 20 minutos de puro encantamento.

Perguntado, o Arnaldo informou: “Conheço desde o disco do Airto ’Virgin Land’, de 1974. Ele também fez arranjo em duas faixas e tocou piano em uma do disco do João Gilberto ‘Brasil’. Aliás, ele já tocou em São Paulo, no Festival de Campos de Jordão em 2001. Você foi ver?”. Pois é, esse tipo de informação porejava do curso o tempo todo.

Milcho era búlgaro, formou-se no Conservatório de Sofia em 1960, com 23 anos. Em 1971, mandou-se pros EUA, onde teve carreira sólida, tocando com gente que ia de Burt Bacharach a Don Ellis, passando por Billy Cobham, Al Jarreau, Manhattan Transfer, Eddie Harris, Roy Haynes, só pra citar alguns. Milcho deu uma banana prá nós e se mandou em 2019.