porque aqui é um boteco:

uma homenagem feita a um então mano, em 2000 e porae, pro livro dele, chico milan, sobre o bar balcão de então, aqele msm, dele msm.

‘Cult? Não, obrigado. Culto, cultivado, urbano.

O mais curioso no Balcão é ser uma espécie de ponta-de-lança duma linha de bares que, praticamente, formou uma geração boêmia e cultivada da qual creio ter participado com algum amor. Ou, pelo menos, um honesto calor humano.
E porque a boêmia é docemente concretada à curiosa urbanidade de São Paulo. Está lá no “Chega de Saudade”, do R.Castro, a estreia da Bossa Nova, ao mesmo tempo aqui e no Rio. Nos lugares aonde iam artistas, intelectuais, cientistas, empresários, políticos, boêmios e boêmias todos. Aqui sempre cultivou o melhor de sua arte também “na noite”.
Você imagina a província mental que seríamos sem essa noite? Waall, como diria o Paulo Francis.
Olha só a escalação do Chico: Posto 6, Oceania, Royal e Balcão. Parece o ataque da seleção de ‘70. E isso vem desde os ’80, logo, já dá quase uma geração de animados, noturnos e urbanos convivas formada nos bares dele, e de uns poucos outros. É mole?
E, hoje, com ele gentil e amorosamente – e melhor, na dor e no amor – “recolhido das ruas” pela finíssima Tiche, temos, ainda, uma sólida garantia de imperecibilidade do Bar (essa é para falar depois do 3º).
Não só Bar como uma espécie de CCSP “by night”, já que lugar de toda ordem de eventos da cultura, noturna e diurna. A vocação é tal que, logo no começo, já se definiu uns dias certos da freguesia por, digamos, artes e ofícios. Logo nas 1ªs 3ªs feiras, todas aliás, comecei a ir c/ os comparsas arquitetos, quando saíamos das aulas que dávamos em Taubaté ou Mogi. Pode-se dizer que um belo pedaço da Escola da Cidade foi lá elaborado entre Cutty Sarks e Old Parrs. Hoje, com o bar famoso e deliciosamente cheio, variamos mais. Com o time que está formado é como o Prata já bem observou: joga-se gostoso dos juvenis às seniores. E com o elegante Marcelo de líbero, à frente da sólida defesa, perfilada por garçons, barmen, caixa, cozinheiros, limpeza e segurança. Uma linha de craques.
E é assim que em ’95, veja só, lancei lá um livrinho de poesia, que deve ter sido o evento literário mais pândego de São Paulo, afora ser o primeiro feito no Balcão. Aliás, literalmente um lançamento, já que estávamos numa semifinal do Campeonato Nacional, e o Santos, após séculos de vil ostracismo, havia perdido do Fluminense (4 x 1) a 1ª partida, no seu Maracanã, e prestes a entrar em campo à mesma hora do livro aqui em São Paulo; não tivemos a menor dúvida, o casal e eu: traga-se uma TV. E assim se fez.
Era um drible de Jamelli, um autógrafo e um whisky; uma assistência de Giovanni, mais autógrafo e whisky. Noite de autógrafos adentro e um litro abaixo terminamos a noite todos em perfeito estado de graça. Puro futebol-arte: 5 a 2, Santos na final, eu num porre fabuloso, e minha musa de então em expectantes olhinhos brilhando. E, claro, um monte de livros lidos (!) e vendidos.
Lindo um lugar assim, né?
E veja que coisa interessante, o desenho do bar tem ou não tudo a ver?’

  1. DJMandacaru
    9 de fevereiro de 2021

    Locus, igualmente, de festa de comemoração (e sentido alívio do orientador, que já tinha perdido a fé) da tese de doutorado de um cabra que deveria estar escrevendo aqui, mas o está fazendo alhures. Fui testemunha dos arrufos indignados da jeneusse dorée filosofal, quando o retromencionado cacique wittgensteiniano foi convidado para comer uma baião de dois lá em casa, isso quando o litro de Cutty Sark que estávamos dividindo ainda ia pela metade. Memorável, o regabofe. Quer dizer, mais ou menos. Eu, por exemplo, não sei como cheguei em casa.